domingo, 9 de janeiro de 2011

Segundo Mutirão para a continuidade da Construção do Urinol de Barro e algumas reflexões

Segundo Mutirão para a continuidade da Construção do Urinol de Barro e algumas reflexões

- Terceira Oficina da gestão responsável pelo biênio 12/12/2010-12/12/2012

Hoje, dia oito do mês de janeiro de dois mil e onze, continuamos a construção do urinol de barro da sede da TAIPAL. Cremos que com mais dois mutirões terminaremos a tarefa e, portanto, nosso sistema sanitário ecologicamente sustentável estará completo. A forma como estamos construindo o urinol já foi explicado alhures. A diferença é que dessa vez ocorreu uma mudança substancial, ou seja, mais pessoas participaram do mutirão. Começamos de manhã cedo e fomos até o meio da tarde, nesse ínterim ocorreu algo importantíssimo, trocamos conhecimentos. Todos os presentes (Ricardo, Eugênio, Oswaldo, André, Mariana e Mário) passamos o dia dando continuidade à construção do urinol e também se conhecendo e compartilhando conhecimentos, a princípio vivências, e se conseguirmos sedimentar colaborações ostensiva e intensivamente poderemos dizer que daqui algum tempo não apenas trocaremos vivências e sim experiências. Hoje nos debruçamos sobre vários conhecimentos oriundos das Ciências Sociais, sobretudo sobre a Cultura Caipira, debatemos sobre o que é o Capital e quais alternativas podemos construir que se encaixem no contra-fluxo da ordem, visto que a irracionalidade legitima-se pela superestrutura, instituições políticas e jurídicas. Digo isto porque vislumbramos e almejamos que a TAIPAL se transforme também numa Ecovila.

Se isso se concretizar ai poderemos dizer que estaremos trocando experiências. Há diferença entre vivência e experiência. Para o grande filósofo alemão Walter Benjamin, “Erfahrung” é a experiência transmitida, que se perpetua através da narrativa de uma geração para a outra. Ela seria típica das sociedades tradicionais, assentada no sentido comum da vontade substancial compartilhada pelos membros da comunidade sendo a “Erlebnis” a experiência vivenciada, vivida de forma individual (ela é marcada pela fragilidade, efemeridade e volatilidade), olhemos ao redor e vermos como ela está presente, por exemplo, a moeda de troca (dinheiro) é a mediação de relações impessoais, voláteis. Ela é típica da modernidade, da vida urbana. Para Benjamin, a modernidade é caracterizada pelo declínio da “Erfahrung” e pela contínua presença da ”Erlebnis”. Caso consigamos transformar a TAIPAL numa Ecovila, poderemos transmitir experiências (conhecimentos) e até mesmo mudar a moeda de troca. Isto pode parecer utópico, entretanto como nos diz o importante pensador uruguaio Eduardo Galeano, a utopia existe para continuarmos caminhando. Além do mais na obra “A Revolução Urbana” de outro grande filósofo, o francês Henri Lefevbre ao tentar responder a seguinte indagação: o que vem depois da industrialização, qual é a realidade social que nasce da industrialização e a sucede? Lefebvre corrobora nossa argumentação e nosso objetivo com o projeto de Ecovila.

Para tentar responder a esta indagação Lefebvre levanta uma hipótese que é a “urbanização completa da sociedade”, esta hipótese implica numa definição que é a “Sociedade Urbana”, por enquanto virtual, não como realização plena, mas como processo ainda em gestação. Deste modo vivemos no transe (lembremos que Lefebvre estava pensando a sociedade ocidental na década de 1970) ou o movimento que poderá chegar até a “Sociedade Urbana” e que neste transe estamos inseridos numa outra fase do eixo espaço-temporal que descreve o “fenômeno urbano”, isto é, após a cidade industrial vem a “zona crítica”, na qual estamos submersos e que também pode ser chamada de “Sociedade Burocrática de Consumo Dirigido”.

Com isto Lefebvre quer nos dizer que ainda não existe “Sociedade Urbana” ou “realidade urbana”, o Autor está propondo uma nova metodologia e epistemologia, propõe uma nova teoria sobre o conhecimento da realidade urbana, do espaço urbano (a cidade), do tecido urbano e da prática (práxis) urbana ou “Revolução Urbana”. Por isso a “sociedade urbana” configura uma virtualidade e sua hipótese de conhecimento que é a “urbanização completa da sociedade” é perfeitamente possível enquanto objeto de conhecimento. Por que associados à indução e a dedução Lefebvre em seu objeto de pesquisa lança mão de uma outra operação de pesquisa que é a “transdução”, isto é, a reflexão sobre um objeto possível, virtual, não realizado mas inscrito no “real”. É, portanto,uma crítica u - tópica, pois toma distância em relação ao “real”, sem, por isso, perdê-lo de vista. Isto é, estamos por hora nos empoderando de uma operação de pesquisa, dizer que a TAIPAL pode se transformar numa Ecovila implica dizer que isso é possível, estamos refletindo sobre um objeto possível. Essas reflexões o mutirão de hoje me suscitaram e tenho certeza que Eugênio, Mariana, Oswaldo, André e Mário também tiveram as suas.

Ricardo Pereira da Silva