terça-feira, 30 de março de 2010

Bio - Arquitetura.

Matéria extraída do http://www.guiaondemorar.com.br/
Bio-arquitetura na prática
É possível projetar e construir uma casa sustentável com qualidade e custo semelhante ao do mercado, garantem especialista

Estima-se que metade dos recursos naturais consumidos pela sociedade são utilizados pela construção civil. E que 80% da energia gasta na produção de um edifico é consumida na produção (queima) e transporte de materiais. Os dados internacionais reunidos em pesquisa científica, realizada pelo engenheiro Vanderley M. Jonh, nos dão um panorama do impacto negativo do modelo atual de construção.

Na contramão de tudo isso, surge a bio-arquitetura, que respeita o bem-estar das pessoas e do meio-ambiente. A fórmula mágica é simples: construir o mais naturalmente possível, sem agredir o ecossistema, utilizando materiais que são abundantes na região e mão-de-obra local, é o que explica Eugênio Biancchini da Paixão, bio-arquiteto especialista em eco-construção.

Eugênio Paixão e Rodrigo Gatto são fundadores da ONG Taipal, que pesquisa e desenvolve alternativas sustentáveis de construção. “Aqui é nosso laboratório”, conta Eugênio. A sede do instituto fica em Piedade, interior de São Paulo, e sua edificação serviu como um grande projeto experimental.

Foto de Divulgação:
O teto da sede da Ong Taipal é feito de grama e tem estrutura de bambu

Métodos sustentáveis de construção

A estrutura da sede do instituto é feita de tijolos de demolição assentados com barro, o piso também é de barro e possui uma camada de cera de abelha para impermeabilização, o telhado é feito de grama com estrutura de bambu, o banheiro é seco, e usa-se sistema de captação e reutilização da água da chuva e energia solar.

Foram aplicados também materiais reutilizáveis, tinta ecológica e a menor quantidade possível de cimento, minério que requer alto gasto de energia para ser extraído da natureza. “Isso tudo são eco-técnicas, que não provocam a extinção dos recursos e não contaminam solo, ar e o meio-ambiente em geral”, explica Rodrigo Gatto, eco-designer.

O barro e o bambu foram bastante explorados por serem abundantes na região. Muita mão-de-obra local foi necessária para levantar cada tijolo, já que na eco-construção a lógica é inversa: é preciso mais pessoas e menos máquinas.
Foto de divulgação:
Piso de barro e bambu, coberto com cera de abelha

Mas toda essa estrutura é resistente o suficiente? “Com certeza”, garante Eugênio. Segundo ele, o bambu, que é um dos materiais mais utilizados e funcionais dentro da bio-arquitetura, além de ser de fácil manejo, possui durabilidade semelhante a da madeira. Como ele é mais mole, é necessário apenas um suporte, como o concreto.

Eco-técnicas chegam a projetos de alto padrão

A bio-arquitetura ainda é vista como um modelo artesanal no Brasil, o que já foi superado em diversos países do exterior. Para os que ainda duvidam da possibilidade de ter uma casa sustentável em meio à cidade grande, o projeto do arquiteto Beto Cauby faz o tira teima.

Foto divulgação:
Projeto de casa sustentável assinado por Beto Cauby

A pedido da proprietária, ele construiu uma casa de alto padrão em um condomínio em Sorocaba apenas com eco-técnicas. “A ocupação do terreno já foi pensada de maneira a utilizar todos os recursos disponíveis no local, e não tirar e nem colocar terra”, conta Beto Cauby.

Na parte inferior da casa, garagem e piscina foram integradas de uma forma que a parede de um seja a mesma do outro. “A intenção era diminuir a quantidade de materiais, que é o primeiro ‘r’ da sustentabilidade, a redução”, explica.

O telhado foi feito com chapa de maderite de eucalipto de reflorestamento e telha de fibra ecológica, os tijolos da parte interna da casa são de licença de jazida, e os das paredes externa são de demolição, deixando à vista o charme típico do acabamento do material. Toda a madeira da obra, desde a estrutura à mobília são de madeiras certificadas. Na cozinha, o MDF foi a solução escolhida.
Foto divulgação:

O deck da casa foi feito de madeira certificada


A casa possui ainda sistema de captação de água da chuva para as torneiras da garagem e vasos sanitários. A água servida passa por uma filtragem de fossa e é devolvida para o subterrâneo do gramado a 60 cm do chão, em um processo de irrigação direta.

Para a iluminação, foram escolhidos os sensores relés, que economizam 30% de cobre, e lâmpadas LED. Todo o projeto foi pensado para que não seja necessário utilizar iluminação artificial de dia. Assim, grandes aberturas de vidro voltadas para a nascente foram colocadas nos cinco dormitórios com sacada e no living, complementando o estilo tropical da casa.

O bambu da ONG Taipal do Eugênio e do Rodrigo foi usado no forro do banheiro, na cobertura do deck e nas pérgulas. Na decoração, porcelanatos com brilho foram evitados por possuir chumbo, e foi a pintura à cal (não acrílica e não sintética) que deu o acabamento final às paredes.

Para finalizar, uma importante coleta seletiva foi feita durante todo o processo de edificação, impedindo o acúmulo de lixo frequente na construção civil tradicional.

Dificuldades e custo da obra

A principal dificuldade econtrada pelo arquiteto foi a compra de materiais sustentáveis. “O tubo pet da piscina, por exemplo, não está ainda adequado às conexões, que hoje em dia só existem de pvc. Tive que voltar ao produto padrão para garantir a qualidade da obra”, afirma Beto. Outro problema foi o sistema de ar-condicionado, que teria que ser importado do Japão, três vezes mais caro.

“É necessário instigar uma luta entre indústria e fornecedores para que esses produtos estejam disponíveis”, avalia Beto. A boa notícia é que, segundo ele, em quatro anos de obra foi possível perceber um crescimento do mercado de produtos ecologicamente corretos.

O preço também é outro problema recorrente. Com pouca demanda, os produtos sustentáveis, no geral, sempre foram mais caros. Mas ao que parece, isso já está se modificando. O custo da obra projetada por Beto foi semelhante ao de uma construção tradicional. “Já é possível construir sustentavelmente dentro do preço do mercado”, conclui.

O próximo passo, para Eugênio, é provocar e sensibilizar toda uma cadeia produtiva. “A nossa ação é despertar pessoas e empresas, além de capacitar produtores a fazer o manejo sustentável dos materiais e mapeá-los, para facilitar a comunicação”, explica.

Foto principal: Divulgação/Projeto Beto Cauby


Data de publicação: 25/03/2010 00:00:00