domingo, 10 de abril de 2011

Visita à Escola Nacional Florestan Fernandes


Partimos de Piedade lá pelas 05h45min rumo à escola Nacional Florestan Fernandes. Representando a TAIPAL, estavam: Eugênio Bianchini da Paixão, Ricardo Pereira da Silva, Mario Miyojim e Oswaldo Rolim da Silva Junior. Nós quatro partimos de carro. Fizemos um trajeto que de Piedade até Guararema durou mais ou menos 01h45 min. O início da visita estava agendado para as 09 horas.


Ao chegarmos à escola, logo na entrada, demos de cara com um monumento onde se encontrava a figura de Che Guevara com o seguinte dizer: Quando o extraordinário se torna cotidiano, é a revolução. A escola Nacional Florestan Fernandes foi construída entre os anos de 2000 a 2005, através do trabalho voluntário dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra, embasado na solidariedade e na persistente luta contra o latifúndio. Uma escola que tem como um dos seus principais objetivos a transformação social. Foi idealizada, e hoje tornada uma realidade mais do que necessária, pelo MST.

Várias atividades são desenvolvidas lá. No decorrer do texto citaremos algumas.

Bom, para o primeiro momento da visita estava agendado um café, seguimos então para o refeitório Josué de Castro. Leite, café, sucos, pães, geléia e manteiga, que eram alimentos de produção caseira, feitos pelos próprios membros da escola. Abaixo do refeitório, havia um espaço de convívio que traz reproduções das obras de Diego Rivera, além das imagens e idéias de vários lutadores latino-americanos, entre eles o de Carlos Marighella.


Tomado o café, seguimos para o auditório Patativa do Assaré, onde estava marcada uma palestra com o educador Dermeval Saviani. No inicio, antes da palestra, ouvimos o hino do MST, entoado pelo refrão “vem, lutemos punho erguido” . Assistimos a um vídeo intitulado “ENFF – Uma Escola em Construção”, mostrando qual é a luta diária que a escola realiza, os projetos, os ideais. Foi-nos passada uma ficha para quem quisesse se associar à ENFF, e contribuir financeiramente com os desenvolvimentos dos projetos realizados pela escola, visando uma sociedade, de fato, mais justa. Geraldo, militante do MST e dirigente da ENFF, nos apresentou alguns membros da escola, saudou-nos com algumas palavras, e depois disso tudo chamou, então, Dermeval Saviani.

Saviani fez uma análise dos contextos históricos dos modos de produção que antecederam o capitalismo. Para, então, enfocar como a educação está sendo trabalhada e pensada nesse sistema capitalista. A educação tanto na cidade, quanto a educação no campo. Colocou indagações-chave para compreender o que ocorre hoje. Que tipo de educação prevalece atualmente? Para que servem as escolas nesse modo de produção que tem como objetivo central a produção de lucro? Qual é o papel do Estado na educação? Depois da fala de Saviani, abriu-se espaço para as perguntas.



Depois da palestra, fomos novamente ao refeitório Josué de Castro, onde almoçamos. Logo após o almoço, os visitantes foram separados em grupos para serem acompanhados pelos membros da escola para conhecer todas as instalações da ENFF, bem como o que tem sido feito pelos militantes da escola. Geraldo foi o nosso guia.


Primeiramente nos foi apresentado um galpão onde se encontrava uma mini-usina produtora de óleos comestíveis orgânicos de sementes como, por exemplo, óleo de girassol, doada por um programa da Petrobrás. Ali encontrava-se uma outra máquina que produzia tijolos, os quais foram usados para construir a escola. São tijolos de solo-cimento feitos pelos próprios trabalhadores rurais do MST.


A produção desses tijolos possibilitam uma redução em torno de 30% a 50% nas quantidades de ferro, aço e cimento necessários à execução da obra, comparados a uma edificação convencional. Os tijolos são levados para secar ao livre, dispensando-se o uso de fornalhas e a queima de madeira.

Depois disso, fomos visitar uma das comunas de estudantes da ENFF. A edificação foi construída com bambus, e o teto da comuna era teto vivo (teto verde, cobertura gramada) – camada de terra e vegetação sobre a estrutura de uma cobertura. São as técnicas da bioconstrução, também presentes no IPD TAIPAL.














Depois, no decorrer da visita conhecemos a biblioteca Florestan Fernandes, que conta atualmente com um acervo de mais de 40 mil livros doados. Visitamos as salas de aula, os alojamentos e os auditórios. Um dos auditórios se chamava Patrícia Galvão (PAGU), e outra sala era a Plenária Rosa Luxemburgo. Um mural sobre uma parede externa retrata Carlos Marighella dizendo “Não tive tempo de ter medo”.












Havia uma sala de pesquisa de dados, com uns 20 computadores, todos rodando Linux, o sistema operacional que desafia o capitalismo.












Geraldo nos disse que o terreno para a construção da escola foi adquirido a partir das doações dos direitos autorais da obra “Terra” de Chico Buarque, com fotos de Sebastião Salgado e prefácio de José Saramago. A escola contribui na formação dos quadros que organizam a luta cotidiana nos assentamentos e acampamentos, bem como na comunicação, cultura e estudos políticos latino-americanos. A escola oferece cursos de nível superior, ministrados por professores universitários, nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia e Política da Agricultura, História Social do Brasil, Conjuntura Internacional, Educação do Campo e Estudos Latino-Americanos. Um dos professores que atuam na formação dos militantes, é o professor da USP Paulo Arantes. Lá, no dia-a-dia do pessoal da escola, as tarefas são divididas. Alguns organizam a limpeza, as refeições, a segurança, o cuidado com a horta e outros trabalhos que a manutenção da escola exige. Ao final da visita, o professor Dermeval Saviani plantou uma árvore de fruta-pão, com a presença de Ademar Bogo, que declamou uma poesia, e de todos os visitantes, numa cerimônia em prol da luta por terra, justiça e solidariedade. Havia outras árvores plantadas ali no local, por Istvan Mészaros (filósofo marxista), Aleida Guevara (Filha do Che, médica pediatra) e Plínio de Arruda Sampaio, entre outros. Já passaram pela escola 16 mil militantes dos movimentos sociais do campo e da cidade, de todos os estados do Brasil e de outros países da América Latina. A escola mantém convênio com 35 universidades. Ficamos contentes com a visita à Escola Nacional Florestan Fernandes ao ver que no Brasil há uma atuação ampla e recalcitrante dos movimentos sociais, como o próprio MST que atua na transformação da sociedade.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Viagem a Takuara Rendá, Paraguai

Éramos dois, Eugênio Bianchini da Paixão e Mario Miyojim, do IPD Taipal. Fomos a São Paulo, estação Tietê, e tomamos o ônibus vermelho do Expresso Guarani, antigo Brujula, um pedaço do Paraguai. Preço da passagem: R$110. Só paramos em Ciudad del Este, em território paraguaio, depois de percorrer 1300 km. Ali registramos nossa presença e declaramos quando planejávamos sair do país. Entramos no ônibus de novo e o deixamos em Coronel Oviedo. Ali fomos ao Banco Continental fazer cambio. Deixamos 400 reais mais 100 dólares e saímos milionários, com 1.505.000 guaranies. O cambio era 2580 G/R$ e 4730 G/US$. Enquanto esperávamos pelo ônibus para Villa Rica, comemos uns salgados e tomamos refrigerantes locais, que eram bons e baratos.


Dali fomos para Villa Rica. Foi um passeio de ônibus interessante e sem incidentes.

Em Villa Rica telefonamos para Guillermo Gayo. Depois, hora do almoço, fomos a um restaurante, que estava vazio.

Em Sapukay, o que chamou nossa atenção foi a qualidade de vida do povo ali, principalmente as crianças. Elas não tinham os problemas familiares que levam as crianças brasileiras a serem agressivas e dependentes de artefatos e substâncias industrializadas. Ali havia um tipo de felicidade e harmonia entre a juventude que no Brasil não mais existe. Passamos algumas horas esperando Guillermo Gayo nos apanhar numa venda de uma neta de ingleses do tempo das ferrovias.

Takuara Rendá é um pequeno milagre de recuperação da natureza, iniciado faz 10 anos por Guillermo Gayo. Este adquiriu 10 hectares de território devastado pela ferrovia inglesa no alto de um morro e, passo a passo, vem substituindo espinheiros por várias espécies de bambu. Várias construções permaculturais estão em uso: a casa do Guillermo, um depósito-oficina-cozinha funcional, sanitário sustentável (pipi-popo), armazém de bambu, alojamento para voluntários. Havia um novo alojamento mais elaborado em construção com novas técnicas.

Guillermo estava ocupado com um projeto governamental e nós fomos alocados como voluntários. Pincelamos paredes de bambu do novo alojamento com verniz diluído e aprendemos a fazer o nó de Milcíades. Este nó é especial, porque substitui com vantagens parafusos, pregos, cola etc., os métodos de fixação convencionais, mesmo para estruturas grandes. Em Takuara Rendá, todos os entrenós de bambus nas estruturas foram atados com nó de Milcíades. O material para atar é um cordão de poliamida de vários diâmetros, que são usados também para pesca. Milcíades é um homem que colabora ativamente com Gayo desde os 13 anos de idade. Sujeito simples, trabalhador que, como muito paraguaios, fala normalmente guarani. Foi ele que inventou o nó a que nós demos o nome.

Guillermo Gayo nos mostrou vários recantos da fundação, com seus tanques, minhocário, horta mandala, tanques de água e a bomba carneiro. Quando saía conosco nas caminhadas, ia com a bomba de chimarrão na mão esquerda, a garrafa de água quente no gancho do braço esquerdo e um facão na mão direita, com o qual podava bambus e outras plantas pelo caminho. Aprendemos muitas coisas nessas caminhadas sobre bambu, arquitetura, e ecologia. Ele nos contou também episódios interessantes envolvendo acadêmicos nas conferências ecológicas de que participara.

Em Assunção, na volta, copiei dois livros sobre a Guerra do Paraguai que Gayo nos emprestou. Os vendedores de passagens de ônibus ali atraem passageiros em potencial como feirantes de hortaliças. Viajamos para Ciudad del Este pelo Expresso Guarani e no caminho, à tardinha, notamos as famílias reunidas nas varandas das casas tomando chimarrão. Comentamos que essa união das famílias já não ocorrem mais no Brasil, por causa do fracionamento ocasionado pelas atividades díspares das famílias.



































































Em Ciudad del Este, ficamos num hotel barato (G50mil = R$19,40), onde a TV tinha acessoa mais de cem canais do mundo inteiro. À noite, jantamos num restaurante, onde comemos bem por menos de 70 mil guaranies (R$27). No dia seguinte, fizemos compras. Mario comprou um dicionário Castellano-Guarani (Ava Ñe´Ẽ de Mochila). Compramos também máquina fotográfica, jogo eletrônico, discos magnéticos para computador, e a carcaça de um pendrive de 8 gigabytes(!). Um mal social notável ali são os mendigos indígenas; o povo paraguaio não tem caridade para com eles, nem o governo. Para passar para Foz do Iguaçú (lado brasileiro) usamos dois moto-táxis, por G15mil (R$5,80).

De um modo geral, ficamos impressionados pela civilidade do povo paraguaio e achamos que o povo tem mais sabedoria do que o povo brasileiro.